Do bloco - III

Como qualquer adolescente, a incapacidade de traduzir pela linguagem corrente toda a turbulência do crescimento levou-me a ir colecionando pequenos blocos onde tentava agarrar pensamentos de passagem, com imagens ou pequenos textos. Hoje apercebo-me como esses blocos foram importantes na reconstrução e definição de quem sou hoje e são um retrato para mim interessante desse período tão cheio fantasmos e projectos, tão emocionalmente avassalador. Recolho alguns exemplos escritos, avulsos e sem data.

Descendo de mim mesmo
e verto-me no futuro
já não é a esperança o meu alimento

O abismo era o tempo que me separava do amor

Não quero estar no meu corpo, na minha vida.
Visto os dias com a luz do medo.
O mundo é uma viagem que nos percorre
como se fosse escuro lá fora.
Sou um corpo que procura o horizonte onde me deixei ficar.

Na caverna dos segredos
sobrevive uma vontade,
única e silenciosa

Não me chegam os dias para o que preciso de ser

Às vezes penso que só a vertigem é pensamento

temos a verdade nos olhos
e o medo afogado no mar da razão
vagueamos pelas ruas
cobrimos os dias de espanto
e rompemos a lei por um despertar

2 Comentários:

  1. João M disse...
    o melhor dos teus escritos da adolescência é que são bonitos ainda hoje. a maior parte das pessoas, eu incluído, tiveram que esquecer-se dessas auto-confissões por serem tão más! :p
    Major Tom disse...
    obrigado, mas eu apenas disse que eram exemplos avulso, não que eram escolhidos ao acaso ;-)
    na verdade, na altura tinha mais tendência para me projectar em desenhos, e de tudo isso também sobra agora muito pouco. talvez seja melhor assim.

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