Hanoi Jane


Pronto, confesso que sempre tive um apreço especial pela senhora. Não é apenas uma consideração artística, é também política, mas liga-se sobretudo à riqueza da personagem como um todo, e pela inteligência de conhecer perfeitamente a sua persona pública. Do altos dos seus 67 anos de idade, não hesita em continuar a mandar bujardas sobre a política imperialista americana, embora admita com a mesma candura que magoou muita gente ao posar junto das tropas vietnamitas no período mais quente da guerra. É impressionante a leveza com que personifica a maior promiscuidade cultural de que há memória: foi a rainha dos vídeos de ginástica caseira e não se faz de rogada para a futilidade do estrelato, mas também foi musa da elite cinematográfica e intelectual europeia (é verdade, nós adoramos apadrinhar as estrelas que caem em desgraça na América), chegando a filmar com Godard e presenteando todos com representações memoráveis. A foto é real e foi tirada numa detenção supostamente equívoca (posse de droga), apesar de muitos desejarem ver a alcunhada de Hanoi Jane nesta posição pelo simples facto de dizer sempre o que pensa e de ter sido uma activista todo o terreno durante toda a sua vida. Lançou agora a sua autobiografia (que deve ser um mimo), onde, entre outros rebuçados, fala da sua luta contra a misoginia interiorizada, que a empurrou sempre na busca da perfeição (e no combate à bulimia), da perfídia do pai (o all american hero Henry Fonda), e da sua recente conversão a uma religião de vedetas (penso que mesmo aqui já está a fazer das suas, ao afirmar que sempre viu Jesus como um feminista). A causa mais recente é a luta contra a gravidez na adolescência. Abram alas, a Jane voltou!

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