O canto da solidão


Fim de semana musical, com sessão dupla na Casa da Música. Sábado, sem amplificação de som e acompanhado pelo cravo e pianoforte, o enorme e divino Andreas Scholl, que nos presenteou no final com um solo a capela e nos elevou com o seu bel canto ao seu reino, onde habitam, entre outros, Haydn, Häendal e Mozart. No Domingo, decidido à saída do concerto anterior, fui ver (ou experimentar) o Antony e os seus The Johnsons, de quem conhecia muito pouco. Foi uma bela supresa, em vários sentidos: primeiro, confesso que estava atraído pela imagética glam que publicita normalmente o artista; nada de mais enganador, nesta digressão, o homem personifica o anti-look. Claro que é difícil um gigante daquele tamanho passar despercebido, mas ele parecia realmente intimidado pela sala repleta (quando entrou no palco penso que todos pensamos que era apenas um técnico de som). Voz única e um show irrepreensível, belos arranjos para as composições do próprio, com duas excepções: incursões no cancioneiro do Leonard Cohen ("I need you") e Lou Reed ("Candy Says").
Duas vozes em torno da solidão (lonelyness deve ser a palavra mais usada por Antony) e do desamor, os dois temas mais capazes de despertar no Homem arte com letras grandes. A música transcendeu o tempo e instalou-se de vez na impressionante arquitectura que aterrou na rotunda da Boavista, com, dizem os entendidos, a melhor acústica do planeta.

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