Mundo vinho


Em Mondovino, de Jonathan Nossiter, tudo se passa em volta dos possíveis efeitos da globalização sobre a produção de vinho. Entrevistam-se produtores, filmam-se paisagens e culturas, ensaiam-se confrontações de mundos através da inteligência da montagem. O realizador assina assim uma tese, durante quase duas horas e quinze minutos de filme, tamanho invulgar para um formato invulgar que felizmente nos vamos habituando a ver de volta às salas de cinema: o documentário. Sem grandes arrufos de pedagogia, o autor obriga-nos a tomar partido entre a tradição e a preservação da diversidade (apenas aparentemente se fala de vinho aqui) e o gosto globalizado ditado pelo capital. Parece óbvio qual é o partido do autor. Não se ouvem comentários, apenas a sua voz a interpelar em várias línguas os protagonistas de uma espécie de teatro universal entre poderosos e os mais humildes no complexo universo vinhateiro. Seria bom poder fazer assim um investigação, de câmara ao ombro e munido apenas de ideias de fundo, trabalhadas mais tarde numa sala escura. A diferença principal parece ser, contudo, que no mundo académico não há espaço para a poesia, essa margem que devolve ao próprio leitor a capacidade de interpretar o que vê.

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