Memórias de Celulóide: Sonata de Outono


Não é, dizem os entendidos (clube do qual me excluo), nem de longe nem de perto, o melhor filme de Ingmar Bergman. Mas foi este, decididamente, que marcou para mim o início de uma paixão fervorosa, que ainda hoje queima. O que me fascinava: as batalhas em forma de diálogos, as interpretações absolutamente estonteantes, a forma negra e carnal como a narrativa se entregava aos abismos da alma humana, especialmente nessa substância emocional corrosiva que é a família. Ingrid Bergman regressava assim ao seu país, quando já todos pensavam que havia esquecido o sueco. Entrega-se, humilde, nas mãos do maestro e deixa-se filmar assim de uma forma despida (embora a diva também por lá ande, no retrato de uma pianista cuja fama faz descurar a relação com a filha). Do outro lado do ringue: a insuperável Liv Ulman, à época mulher do realizador. São dela os momentos mais intensos, quase insuportáveis, quando despe a máscara e confessa à mãe todo o fel que lhe vota desde criança. Uma melodia de Chopin, um estranho prelúdio que ainda hoje me hipnotiza, e "que deve soar mal", como diz uma das personagens, serve de banda sonora. E Bergman penetrava no meu coração.

2 Comentários:

  1. Anónimo disse...
    adorava rever esse filme!!!
    também eu tenho óptimas memórias dele .beijos e escreve sempre!
    cristina alçada
    Major Tom disse...
    já temos um pequena colecção de afinidades, verdade, colega?

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