Life on ice


Num Domingo que prometia ser o mais caseiro e pachorrento dos últimos meses, acabei por me deixar convencer a ir com duas amigas a um mercado de roupa no impressionante edifício da Alfândega do Porto. O projecto não correu bem, tenho vindo a desenvolver um fobia por multidões, e quem me conhece sabe que tenho crises de ansiedade quando entro em lojas (felizmente eu e o Venus temos as mesmas medidas e vou 'herdando' periodicamente algumas peças). Resultado, perdi-me e acabei por fugir, refugiando-me no Café do Cais. Como não havia mais nada disponível, acabei por comprar num quiosque vizinho o último número da National Geographic. Indo ao ponto: divagando mentalmente, ia pensando nos trabalhos para a faculdade, tentando descortinar saídas. Pretender estudar a fundo o percurso de alguém, que é o que me intriga e fascina na meotodologia das histórias de vida, pode revelar-se uma busca surpreendente (ia desfolhando ao mesmo tempo a revista). A sensação poderá ser semelhante à daqueles espeleólogos que, ao investigar com sondas gigantescas as camadas de sedimentação do Ártico, descobriram a prova de que nem sempre aquela paisagem foi assim branca, mas antes um lugar verdejante e aprazível. Até a metáfora da cristalização, do gelo e das identidades, parecia contribuir para o paralelismo. É bom reconhecer que os investigadores, seja porque não encarnam a alma do entrevistado, seja porque não mergulham nas profundezas do Ártico, apenas penetram no objecto parcialmente. Mas não será esse, apesar de tudo, um trabalho imprescindível?

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