A incompletude dos patos


Incompletude: a expressão é usada pelo 'Papa' Boaventura de Sousa Santos para traduzir a necessária complementaridade de que se revestem as relações sociais. É uma palavra bonita e eu também penso nela quando me apercebo de como a minha vida está estruturada em função de uma relação a dois. Nestes dias em que não estás, tenho dificuldade em organizar-me, em reverter em actos os pensamentos. Faz-me pensar no caos que se segue aos fins dos casais, como se repente o mundo fugisse debaixo dos pés. Numa fuga ao torpor domingueiro em que tinha mergulhado, liguei a uma amiga e em tempo recorde (já estava em cima da hora) pus-me à porta do cinema. Vimos a Temporada dos Patos, de Fernando Eimbecke. Um filme com uma poética singular e que faz uso da divisa 'menos é mais'. Poucos personagens, economia narrativa e de espaço (tudo se passa dentro de um apartamento e apenas em 3 espaços, cuja divisão se revela fulcral em termos da acção: a sala, a cozinha e a casa de banho. Uma pequena lição de cinema e de vida, sobre o crescimento e sobre o 'toque' humano, que conta com duas metáforas fundamentais: a dos cartuchos numa cartucheira (são como as oportunidades, não as podemos desperdiçar); e a dos patos em migração: o voo em V significa que os patos que vêm atrás beneficiam do voo dos que vão à frente, porque estes rasgam o ar. Quando um pato da dianteira se sente cansado, recua para a traseira do grupo, e logo é substituído. Quando está exausto, é escoltado por dois patos, que o acompanham até se recuperar... ou morrer.

3 Comentários:

  1. Anónimo disse...
    Metáforas bem bonitas, tem esse filme...
    Major Tom disse...
    enquadradas no filme ainda soam melhor :-)
    Anónimo disse...
    tens emrgive innate plurals disclose bois justiciable apparel attentively poulenc eere
    semelokertes marchimundui

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