Maninha
Nutro uma paixão enorme e por vezes angustiante pela minha irmã, não pelo facto de ser irmã, mas por ter querido crescer comigo, e por se esforçar constantemente por me entender. Eu sei que a paixão é sempre este acto egoísta que nos leva a depender de quem gosta de nós. É uma espécie de precisão mútua. Sempre achei que ela convivia com as pessoas erradas para a sua sensibilidade, demorei a compreender o seu fascínio pelo desporto. Uma das coisas que mais nos ligou (e liga ainda hoje) foi a leitura daqueles livros que eu, presunçoso, lhe fui oferecendo, emprestando ou recomendando ao longo destes anos, aquilo que eu pressentia ser o alimento para saciar um espírito curioso e sensível que não se sabia assim. Penso sinceramente que os livros a ajudaram a perceber que o mundo não era só aquela paisagem baça e conformada em que ela sempre escolheu viver, no olhar arrogante e confortável de onde me coloco, direccionado para esta mulher balzaquiana, professora, mãe de duas crianças, de um marido e de um lar que lhe bebem todas as energias.
Maninha, o nosso amor não está naquelas páginas do Somerset Maugham?