O corpo transcendente


É engraçado este coisa do nosso corpo e das nossas relações com ele (digo no plural porque nem nós somos sempre os mesmos nem o corpo é uma realidade estática). Há uns anos atrás, por exemplo, nunca me teria imaginado a fazer nudismo no meio de uma multidão. Era uma daquelas coisas que ficam cá entrenhadas: praia nudista é coisa misteriosa e obscena. Também me recordo perfeitamente das minhas primeiras aversões ao toque, com uma tia que insistia em me massajar de cima a baixo. Acho que percebi aí a fronteira entre o "sim, sim, sim" e o "não, não, não" que devemos ouvir do nosso interior quando estamos numa situação destas, para aprender a distinguir um abuso, como vi num pequeno e simpático filme de animação na Associação do Pleaneamento da Família. Só bastante mais tarde consegui perder alguma reactividade instintiva ao toque, e deixei de parecer um coelho acossado sempre que alguém se aproximava ou me fazia uma simples carícia no cabelo. Sei que ainda hoje preciso de trabalhar este pudor se me quiser entregar de forma mais aberta a uma amizade mais corporal (não estou com isto a dizer que não tenhamos as nossas legítimas fronteiras de intimidade), mas estou grato a todos aqueles que me ensinaram que o corpo faz parte de mim, e como tal também o devo pôr em comunicação com o mundo (por muito estranho que isto agora de repente me soe...).
(claro que este post é um pretexto óptimo para fazer regressar um corpo bonito ao blog, que tem andado com um aspecto um pouco sisudo. a cortesia veio daqui)

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