As minhas cidades - Porto
É difícil falar do sítio onde crescemos e vivemos. A nossa história e a da cidade confundem-se e imbricam-se, ao ponto de não nos apercebermos que somos duas entidades distintas senão em duas situações: quando saímos, especialmente durante um período prolongado, ou quando mostramos a cidade a um visitante (o que nos obriga a uma paragem reflexiva que nos coloca no lugar de um outro, logo com um novo olhar). Regressar ao Porto significa ter que lidar com os seus cinzentos graníticos e com as suas tardes chuvosas, o clima traiçoeiro e a escuridão das suas ruas a certas horas. Significa engolir diariamente com um Porto jabardo, politicamente irresponsável, com o lixo espalhado por todo o lado, os prédios degradados, cartazes colados anarquicamente, trânsito infernal e condutores tresloucados, um rio poluído, becos e ruas a cheirar a urina, caca de cão a forrar passeios inteiros, e o deserto nocturno, aumentado pela má iluminação. Mas quem lhe der tempo, para além do seu provincianismo e da tacanhice da sua mentalidade de tasca e futebol, é capaz de ter o previlégio de conhecer uma outra cidade, a que acalenta o sonho cosmopolita que espreita mais em momentos do que em espaços, embora seja impossível passar ao lado de Serralves, da rua Miguel Bombarda, do Rivoli, dos novos Teca e Casa da Música, da beleza da rua das Flores, cantada por Eugénio de Andrade, o Passeio Alegre e a Foz velha, a tranquilidade semanal do Parque da Cidade, do Palácio de Cristal, do Jardim Botânico ou da zona das Virtudes, ou o simples deslumbramento com o pout pourri arquitectónico, que guarda no meio de tudo lugar para uma desconcertante livraria art nouveau: a Lello & Irmão. Para além de tudo, é a minha cidade, e eu como que domino o seu funcionamento. Sei que nela habitam vários credos, culturas e linguagens, e enriqueço-me diariamente com esse colorido que irrompe do cinzento para o esmagar. Ainda é um lugar onde sei que posso crescer, e onde eu sinto que posso ser esta entidade mutante do urbanismo pós-moderno: anónimo e invisível, pequeno como uma formiga engolida pela selva, mas também um cidadão activo e curioso, que pode saciar aqui a sua sede de mundo e imprimir nele o peso do seu toque.
Mas... aquela vila pequena permitiu-me fazer outras descobertas. A descoberta de amizades que perduram mesmo que a distância impere, com quem partilhei camas de infantário, ruas que imaginávamos serem casas e lameiros que transformavam os meus vestidos brancos em outras cores (castanho, era a cor mais frequente). Onde o valor do cinema era inexistente e em que a chegada da Carrinha - Biblioteca da Calouste Gulbenkian era o momento mais esperado da semana. Volto a essas estradas de verde e pinheiro para respirar, para me deitar no colo de pais maravilhosos, para actualizar conservas temperadas com sabor de distância e de saudosismo.
Sinto-me, pois, feliz! Sinto que estas realidades, tão diferentes, me construíram.
Talvez por isso, sinto que pertenço a ambas. ju
de que terras falas, ilustre anonymous?
N
ao tem nada a ver, eu sei, mas fui ao bookcrossing e mias NINGUÉM DEIXOU OPINIÕES... chuac! chuac!
Tb adoro o Porto e vai ser sempre a minha segunda cidade... engraçado q hoje qdo volto ao Recife tb sempre vejo com outros olhos, qdo tava lá passava despercebida de muitas coisas...
Aqui vivo, como digo no meu blog, como uma "Eterna turista", pq sempre q ando pelo Porto admiro tudo q vejo, não conheço o mundo inteiro, mas pra mim é uma das mais lindas cidades que já vi, apesar do céu cinzento :)
beijosssssssssss