A insustentável redundância do ser
Há alturas em que desespero com toda a ignorância que cabe neste mundo. Tenho encontro marcado com ela, diariamente, no acompanhamento de adultos em processo de certificação. Ele é porque não separam os lixos e acrescentam que não o tencionam fazer (é sempre muito longe de casa, o que quer dizer que não é à porta de casa); porque arranjam esquemas para se livrarem das multas merecidas pelas alarvidades que cometem dentro de um carro; ele é porque escrevem 'desogorizante', 'entrevalo' ou 'árvore ginecológica' e acham que está correcto mesmo depois de lhes chamarmos a atenção; ele é porque acham que tudo lhes é devido, menos pagar os impostos e ir votar, que é uma seca e os políticos são todos iguais, e portanto pedem-nos que façamos aquele jeitinho (porque precisam sempre mais do certificado do que todos os outros mil e quinhentos adultos que relembramos terem entrado em processo antes deles), ou porque acham que afinal eles é que nos estão a fazer um favor e nos respondem com um ar enfadado que até arranjaram aquele contrato de trabalho que nós (!!) queríamos; ou, finalmente, porque o comentário escrito a um livro, quando muito, é sobre a última edição do Readers Digest (e já é um pau, que a Maria, a Nova Gente ou a Bola é que trazem o que interessa); quando afinal existe um livro, é invariavelmente "Os filhos da droga", se for um pós-adolescente, ou o "O Poder da Mente" e "A Vida no Além", se for mulher acima dos quarenta. Estou farto que não percebam o que é 'tirar medidas', 'tomar iniciativas' ou 'iniciar um diálogo', de explicar o que é um projecto ou um objectivo, ou que torçam o nariz quando sublinhamos que sem saber usar um computador não há certificado para ninguém, por muito que nos queiram convencer do contrário, com o pretexto de que nunca vão precisar de tal coisa. Estou pelos cabelos com o "dê-me, dê-me, dê-me" e "rápido, que não posso perder tempo com porcarias sem interesse, é só mesmo pelo diploma".
BASTA!!! A partir de hoje, só falo com pessoas que me provem ser capazes de sair do reino que ergueram à volta do seu próprio umbigo.
1º Não cobiçarás os Dossier do próximo;.
2º Não faltarás à primeira sessão;
3º Honrarás a tua família e não copiarás a árvore genealógica do teu vizinho;
4º Não adiarás as sessões para ir de férias;
5º Pagarás, sem relutância, os cinco Euros para a selagem de contrato;
6º Não levantarás falsos testemunhos sobre o teu percurso de vida;
7º Serás cordial e cavalheiro(a) com toda a equipa do centro;
8º Facultarás, atempadamente, todos os documentos que te forem solicitados;
9º Não pensarás, à priori, que a inscrição no CRVCC te facultará obrigatoriamente o certificado de 9º Ano;
10º Não permitirás que o teu filho opine sobre a tua vida;
11º Não te inscreverás em vários Centros;
12º ? Não, ainda não damos.
Beijos doces, Tercigirls
Oh Telmo, cuidado, tás a ficar mau como eu!
Este post é um exemplo de alguma cegueira porque de certeza que as pessoas que acompanha podem ensinar-lhe muito mais do que um técnico que está a fazer o seu trabalho lhes pode ensinar a elas. Talvez devesse fazer um post sobre isso. E desde quando ir votar ou pagar impostos nos faz pessoas aceitáveis? Só dentro de uma visao muito estreita da vida/realidade. A cada um o seu umbigo.
no meu trabalho, com efeito, não me compete ensinar nada e nunca tive a presunção de o fazer (ao contrário da ilusão, essa sim arrogante, de alguns colegas de profissão). é claro que aprendo todos os dias com os adultos que conheço e acompanho no processo, e já tenho falado sobre isso aqui no blog. esse é o lado mais rico e desafiante, e é decididamente o que me faz adorar (apesar deste post) o trabalho que faço. simplesmente não sou capaz de ver toda a gente sob o mesmo prisma, e nisso assumo a minha parcialidade. a verdadeira conquista do processo de RVC, a existir, reside no reconhecimento efectivo do valor ignorado de muito boa gente, e não na atribuição de medalhas à ignorância e ao cumpadrio. disso eu não quero ser cúmplice.
tb tou farta de coisas parecidas. deste país q parece feito de gente q não quer fazer para o bem comum, que só quer que lhe dêem coisas (dinheiro, certificados, diplomas, cargos, o que for)sem fazer nada em troca. diz o migas que os portugueses não gostam do país, se não não o punham a arder. eu acho que é verdade, mas esse é um exemplo entre milhões.
1deabril
PS.Q NA TEM NA A VER, COMO D COSTUME: pergunta + estúpida da tv na última semana: tá umA senhora com a casa toda queimada pelo fogo e vai uma jornalisa da SIC e pergunta-lhe "as chamas eram muito altas?"
muito gostava de saber qual é o verdadeiro processo de selecção de jornalistas...
1DEABRIL