Entre Sado e Paris
Fim de semana regenerador, na zona de Alcácer do Sal. Depois de sobreviver ao inferno da A1, onde se concentrou o país inteiro, o quarteto fantástico atacou a praia da Comporta e optou por não fazer absolutamente nada a não ser sacudir a areia que se enfia entre os dedos dos pés e dar pequenos saltos na água para acompanhar a ondulação marítima. Entre o deslumbramento pela beleza melancólica de um fim de tarde no estuário do Sado e um jantar de batatas de reboleira, fui derramando o olhar pela linhas de um pequeno Edmund White - Paris, Os Passeios de um Flâneur. Aqui, o autor discorre livremente sobre a sua visão pessoal da cidade, intercalando faits divers históricos com apontamentos comparativos entre duas culturas, a americana e a francesa, especialmente em torno de temas como o desprezo francófono pela política da identidade, cuja raiz reside na dimensão universalitsta da ideia de igualdade. São quase duas cosmovisões. White nunca recusaria ser classificado como um autor gay. Um escritor francês na mesma situação bradaria aos céus, não por ter internalizado a homofobia, mas porque a diferença é algo que agride a construção da democracia que nasceu da revolução de 1789.
Pensei como seria interessante que os arquitectos se sintonizassem com este tipo de reflexões, para contrariar um pouco a megalomania tecnicista e sem rosto com que têm brindado as nossas cidades. Para esses, recomendaria também outras duas obras que pessoalmente me seduziram, ambas da responsabilidade do Carlos Fortuna:
1997 - Cidade, Cultura e Globalização. Ensaios de Sociologia (Organizador). Oeiras, Celta [em 2ª edição].
1999 - Identidades, Percursos e Paisagens Culturais. Oeiras, Celta.
1 Comentário:
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- Major Tom disse...
9:19 da manhãconcordo com o que dizes, e admito que sou um leigo no assunto. o que eu queria dizer no fundo é que me parece que podemos aprender mais a olhar para o passado de uma cidade, percebendo como se foi sedimentando a sua funcionalidade mas também a sua dinâmica social, cultural e estética. talvez isso dependa de todo um conjunto de outros agentes também, mas não se pode deixar de lado a visão do cidadão comum.