Kizomba!


Imbuído de um genuíno espírito etnográfico, e derrotado pela persistência dos convites de amigas, participei na minha primeira noite de kizomba. A 'experiência' dá-se todos os fins-de-semana no River Café, um grande paivilhão à beira-rio, na zona de Lordelo. Chegados, reunimo-nos a conhecidos de conhecidos e, munidos de um copo, damos início à nossa observação participante, meneando suavemente a anca para uma integração mais eficaz no ambiente. A pista ainda tem muitas clareiras, mas já se respira alguma ansiedade. Uma grande porção são adolescentes: elas, hiper-produzidas, de umbigo à mostra, salto de agulha bem alto, cabeleira geralmente longa (ondulada com mousses, nas brancas, em tranças, nas negras); eles de biceps bem bombeados, pouco cabelo empastado em gel ou rapado, sobretudo os negros. Noto a fraca presença destes últimos. A minha amiga diz-me que eles preferem a Number One, mas mais tarde aparecem todos por ali, ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo, interrogo-me como se deixaram todos os outros seduzir por este fenómeno. Terão todos um passado africano? Será isto um testemunho presente da nossa mestiçagem?
Alguns matulões, verdadeiros monumentos crioulos, permanecem atentos mas imóveis junto aos balcões que circundam a pista. Parecem aguardar o momento certo, que parece nunca chegar, e saí de lá sem perceber se eram todos funcionários de segurança. Um animador salta para a mesa do DJ e anima as hostes com uma linguagem parte hip-hop, parte algo parecido com a tabanca cabo-verdiana. A multidão aquece e todos começam a sintonizar-se, como uma vaga humana levada ao rubro, muito concentrada. Há um odor explicitamente macho no ar. Elogiam-se as mulheres, a sua beleza, repetem-se insinuações e piropos. Claro que me sinto desconfortável. Começo a imaginar a reacção da multidão se de repente dois homens se agarrassem daquela forma. Não me imagino a regressar, sou demasiado racional, e ali é preciso ser todo corpo. Não que não goste de dançar, muito pelo contrário. Há ali algo de profundamente cardíaco e erótico, só que exclusivamente heterossexual. Ainda assim, feito o balanço, acho a visita interessante para todos os curiosos e fundamental para os mais cépticos. Ainda não sei a qual dos dois grupos pertenço.

3 Comentários:

  1. Major Tom disse...
    fico a aguardar os resultados :-)
    Fabi disse...
    :)) Tb não fazia ideia... achei que ali era música de "bate-estaca" :) Olha, outro dia em Aveiro fui a uma festa de africanos e só rolou Kizomba a noite toda, foi a 1ª vez vez que "dancei", ou pelo menos tentei :) confesso que achei meio repetitivo, prefiro meu forrozinho... :)
    beijoss
    Anónimo disse...
    Sou mulher e branca. Já fui a esses ambientes africanos e gostei bastante. Há muito "sexo no ar" e os homens africanos não escondem a preferência que têm pelas mulheres brancas, o que é muito agradável... lol

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