Campo


Regressamos periodicamente a Avintes. A ouvir os pássaros, a sentir pertinho o rio, as casas antigas, os quelhos, o cheiro a estrume e a terra batida, os arrufos da canzoada e o bailado dos gatos vadios. Para sentir de novo que houve uma altura em que todos vivíamos assim, e poucos persistiram no sonho. Eu já não tenho solução, sou irremediavelmente urbano. Mas ainda sorrio com e me deixo levar por um apelo adolescente que me atirava para o campo em projectos de futuro, numa experiência que imaginava próxima das extintas aldeias comunitárias: todos damos trigo e lenha para fazer o pão, hoje és tu que levas o gado a pastar, amanhã sou eu que cuido da estufa. Hoje em dia, o campo é uma bolha de nostalgia e não o consigo levar a sério. É como se fosse mais real o piche nas estradas do que a flor silvestre na berma do caminho.

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