Sono

Costumo pensar que em português existem muitas palavras para o mesmo significado, ao contrário, por exemplo, do inglês, que parece possuir uma economia de recursos tão grande que se serve do mesmo termo para designar vários sentidos. Nesta dinâmica o contexto é um factor explicativo fundamental. Daí o exemplo clássico da neve, que para os esquimós se traduz numa série de nomes (que designam a variedade subtil de gradações da água congelada, para nós imperceptível) ou o da comunidade de pais que luta para que exista uma palavra que traduza o sentimento ou a situação da perda de um filho (para estes, essa passa a ser a realidade mais fundamental, e não encontram um nome que lhe dê significado, que a localize no espaço e tempo social).
Entre o despertar e o sono, dizem os italianos, existe uma espécie de limbo a que eles chamam o dormiveglia. Nesse limbo, emerge frequentemente uma confusão entre a realidade e o que eventualmente possamos estar a imaginar, o plano realístico e o plano fantástico. Esta noite, foi nesse meio-sono que fizemos amor, um bocado sofregamente, como quando nos reencontramos ao fim de quinze dias de separação e abstinência. Ainda não percebemos o que se passou; um de nós (ou até ambos, ao mesmo tempo) podia estar em pleno devaneio erótico em sonhos, movimentando-se realmente, ou então era o clima da relação esta semana, a transpirar expectativa por novas e excitantes experiências, de que provavelmente voltarei a falar.
Seja o que for, abençoados italianos, por inventarem uma palavra para esta realidade.

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