O Professor


Em todo o meu percurso escolar, longo e irregular – estamos a falar de 12 anos repartidos por 4 escolas, mais 8 anos a arrastar uma licenciatura até à sua conclusão – feitas as contas, devo ter conhecido uns bons 70 professores. Autoritários uns, chatos outros, interessantes, patetas, altos, feios e bonitos. Achava de todos eles, porém, uma mesma coisa: que existiam apenas na escola, como se tratassem não de pessoas mas sim de personagens que apenas entram em cena quando chega a sua deixa. Sempre estranhei encontrá-los fora do seu habitat, na rua, num cinema, ou pior, na praia ou num bar. Era como se repente algo no mundo se quebrasse, ou a minha própria relação com ele. Ainda agora, e apesar de já não ser estudante há 3 anos (se excluirmos a escola da vida e do trabalho), me constrangem esses encontros, e não tenho vergonha de admitir que fujo deles como se foge de um cão nervoso sem trela. Como há uns dias, ao acompanhar a minha mãe a uma consulta no hospital. Dou de caras con la maestrina de Sociologia Rural e Urbana, a conversar neurótica e alegremente ao telemóvel. Sem escapatória, encurralado num canto, lá tive que gramar durante pelo menos uma hora com aquele interminável relato íntimo (aaarrhg!), num volume que mim parecia próximo da vociferação.
À conclusão: os professores também ficam doentes.
Faz-me pensar... será que as minhas formandas também me vêm da mesma maneira? Lembro-me daquela vez em que me cruzei com elas, acabadinhas de sair de um espectáculo no Coliseu(cortesia da instituição), e eu a descer já um bocado acelerado pelo álcool a rua Passos Manuel, em direcção aos Maus Hábitos: "Olhó doutor!!!"
Socorro!! Eu sou o meu pior pesadelo!!

3 Comentários:

  1. Miguel e Bruno disse...
    LOL. Um verdadeiro finale a la Silvester Stalonne (I'm your worst nightmare). Pior pior, só comigo. Professoras que viraram alunas. Colegas que viraram professoras. Um verdadeiro tormento.

    PS: Espero que tenham recebido o nosso mail!
    (MC do H2omens)
    Anónimo disse...
    estranha sensação!
    no fim de semana nas ilhas Cies, depois de muito sol no rio, decidi-me a avançar com o sr. Lawyer para a praia dos "nus". tímidamente retirei a roupagem, cubri-me com sal e sol, algas e encantos do olhar doce do homem que me acompanhava.
    os raios apoderaram-se dos ombros, dos pés, das virilhas e ao longo do dia refresquei-me com a sensação de conforto: pela partilha, pela diferença, pela simplicidade.
    nadei, ondulei naqueles lábios sedutores, reforcei o que sentia e o que quero sentir.
    paz!
    quando regressei às referencias diárias: o olhar, os comentários, os autocarros e as bandeiras, as dinâmicas do Balanço de Competencias( " o que quer que diga? que matei um homem, que roubei e que estive preso? escrevo isso no meu Dossier?")questionei-me: e se encontrava este Sr.(o tal que questiona o que deve colocar no seu Dossier)na toalha ao lado? (Ju)
    Anónimo disse...
    Pois... essas coisas já não me acontecem a mim... Filho de um professor e de uma professora por tempo limitado (antes de abrir a Framácia...) e forçado claro está a conhecer todos os professores e professoras da escola (porque my father é Presidente da Comissão Executiva) vivi sempre com os professores mais vezes fora do seu "habitat natural" (como dizes) do que dentro da sala de aula... e acontece que para mim é muito mais constrangedor estar a "aturar" o professor (aparentemente) chato na sala de aulas, do que a sua verão light, bem mais simpática e "normal" fora dela! Enfim, uma prespectiva diferente! Um prisma do avesso...

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