Respiração

Aos três anos de idade diagnosticaram-me asma. A minha infância foi um rosário de chiadeira e pigarreia, e sempre vivi com a ajuda dos meus amigos corticosteróides. Sempre respirei pela boca, o que quer dizer duas coisas: de noite, é baba quase certa na fronha (devia haver um subsídio de fronha para os pais de crianças com asma) e o olfacto é um sentido mais imaginado que exercitado.
Há um mês atrás, decidi acabar de vez com esta vida de velho e fui ao médico. Para mim o milagre da ciência é isto: acordar com a boca fechada e sentir nos lençóis o cheiro a sexo da noite anterior.
Talvez um dia ao falar não me perguntem se estou constipado e eu não sinta que as palavras me saem como que de dentro de um aquário vazio.
Para já dou-me por contente por descobrir que os coentros têm cheiro, e de que maneira!

1 Comentário:

  1. Anónimo disse...
    Olfacto... que seria de mim sem esse sentido? Como seria possível viver sem sentir o cheiro do mar, da terra húmida, das árvores, do amor? Que bom seria não sentir o cheiro do lixo, das fábricas e do cheiro do amante do meu companheiro impregnado no seu corpo quando fazemos amor!...

Deixe um comentário







Recomenda-se


Outras paragens



anodaorquidea[at]gmail.com
 

© O Ano da Orquídea 2004-2007