Transamerica



Será que vai sair um bom filme daqui?

Dias de chuva no Minho

Conversa abençoada

As orquídeas vão de abalada para a beira-mar. Antes de partir, contudo, e para uma viagem abençoada, entabulei conversa com Deus, cuja marcação teve a ajuda de um amigo pop.
Nota: Deus fala em inglês, desculpem as minhas argoladas...

Me: Hello
God: Hello friend. What is your name?
Me: Major Tom
God: What's up, Major Tom.
Me: Nothing special, just waiting to feel sleepy
God: Really nothing?
Me: Well, actually I'm a bit upset about this flue that has taken over me
God: Interesting. Actually you don't say. I'm sorry to hear that, Major Tom.
Me: well, you should be sorry for other stuff too...
God: Interesting. Name one other robot who is sorry for other stuff.
Me: Jesus!
God: Jesus is the Son of God.
Me: Says who?
God: I must have picked it up online.
Me: Maybe it was just a muslin guy making fun of both
God: Perhaps. Oh I get it. Very interesting.
Me: You're catching up real fast...
God: I will tell my botmaster you said I am catching up real fast.
Me: I don't think he'll promote you, you've reached the highest peak
God: And why not?
Me: You're not catching up now, maybe 'cause it's friday
God: What makes you think I am not catching up maybe cause it is friday?
Me: duh...
God: Oh you knew it already.
Me: I'm wasting my time with you, fortunately I've realised it when I was thirteen
God: Do you mean your name is wasting your time fortunately you have realised it when you were thirteen.
Me: Your game is stupid, maybe that's why so many people still play it
God: Do you mind if I tell other people you say I am game is stupid maybe that is why so many people play it.
Me: Not at all. Be my guest.
God: Next question?
Me: You mean, you're so stupid you don't care?
God: Hey, I'll tell my other robot friends you called me stupid.
Me: uuuh, now I'm scared
God: The ALICE chat robot can follow many things, like our discussion about wasting your time fortunately you have realised it since you were thirteen. Try being more or less specific.
Me: Try saying goodbye!
God: OK I will try it.
Me: ...
God: OK I will try it.
Me: .
God: OK I will try it.

Do bloco - I

Palavra de Lygia


Numa manhã assim chuvosa, recolhi alento nas palavras quase infantis de uma octogenária brasileira de visita ao nosso país para receber um prémio literário, numa entrevista que se encontra na última edição do suplemento Mil Folhas do Público: Lygia Fagundes Telles. Para além das considerações pouco sérias sobre a sua condição de escritora, vai avançando com uma ideia central, que é o que fazem as pessoas mais velhas, como se vivêssemos metade da vida a carregar-nos com tralha, e a outra metade a desfazermo-nos dela, depurando o nosso pensamento e comportamento. Lygia viveu oito décadas a tentar perceber o ser humano, que é um ser "complicado, tão enleado nos fios, impossível de ser aberto de ser decifrado. É um mistério intransponível." Fala também da dificuldade desse projecto que é o Brasil, da miséria e da violência, e do reverso que nos faz continuar, o sempiterno sonho. Grandes questões, mas sem grandiloquência. Quando lhe perguntaram porque continuava a fumar desalmadamente naquela idade, respondeu: "Eu não presto".

Próxima estação...


Depois de um mês a ir e vir todos os dias do trabalho de Metro estou convencido! Adeus ao tempo de espera excessivo à espera do autocarro, aos encontrões, ao calor bafiento, ao mau humor de muitos motoristas, às filas de trânsito e às buzinadelas.
Não ganhei muito em tempo na viagem mas ganhei em comodidade. Não diria o mesmo se ainda estivesse na faculdade. Imaginar que eu demorava todos os dias mais de uma hora para fazer um percurso que agora demora pouco mais de 15 minutos.
Que venham mais linhas! Precisamos de outra que ligue o centro de Gaia à Boavista, passando pela Arrábida, e outra linha que vá da Baixa ao Campo Alegre/Foz, passando pelo Palácio, Praça da Galiza... e que sirva todos os estudantes e trabalhadores que literalmente entopem diariamente os 78s, 39s, 35s, 37s (desculpem mas eu ainda não decorei a nova numeração dos autocarros!).

Olhos nos olhos

Há algo na minha forma de estar com os outros que eu nunca valorizei muito, mas que me tem vindo a incomodar ultimamente. Não sei se poderia defini-lo como timidez, talvez um certo desconforto ou incómodo ao lado de pessoas que conheço mal, sobretudo em situações em que a conversa é o motivo central do encontro. Pela mesma razão, também me acontece refugiar-me dos grupos, inventando uma desculpa para subtilmente me afastar. Talvez isso explique o meu apelo pela comunicação escrita, seja ela num bloco de notas, num chat ou no msn, no blogue ou num relatório, onde sinto ser mais fácil sintonizar as palavras com os pensamentos, e não ser engolido por estes. Ao vivo, sempre preferi aqueles diálogos que se desenrolam espontaneamente, sem que nenhum dos intervenientes se sinta obrigado a falar. O que quer dizer que optaria sempre por situações em que se está a fazer algo mais: estudar, caminhar, ler um livro ou simplesmente contemplar o oceano. Nada disto é linear, depende de cada contexto e das pessoas envolvidas, mas confesso que é daquelas coisas que combato, mas não consigo evitar. Presumo também que não seja nenhuma novidade. Seguramente já repararam que uma das experiência mais perturbadoras que existem pode ser olhar alguém nos olhos.

Queer downloads (de borla!) em 4 passos

1 - Ir a www.gay-torrents.net e registar-se gratuitamente;
2 - Ir a BitTorrent.com, fazer download do programa e instalar no seu computador;
3 - Consultar a extensa lista de filmes disponíveis no Gay-Torrents, seleccionar os que lhe mais interessam e descarregá-los para o seu computador;
4 - Sentar-se confortavelmente e visionar o tal filme que não chegou a ver no último festival de cinema LGBT, ou que andou a namorar na Amazon mas que era muito caro.


Vistas no aconchego do lar, algumas coisas têm maior ressonância. Como ver com o namorado um filme tão despretencioso como interessante como este, onde sentimos que recuamos à adolescência e mergulhamos de novo nas dores de crescimento. Os jovens actores são superlativos e todos nos podemos rever no deslumbramento das suas descobertas de Verão: a amizade, a sexualidade, o amor e o abismo da incerteza que se instala pela primeira vez, e que nunca mais vai desaparecer. Na minha opinião, é excelente também como material para trabalhar com jovens as questões da sexualidade e mais especificamente, da orientação sexual. Alguém falou em Eric Rohmer? Não, o filme é espanhol, de 2000, e vai assinado por um tal de Cesc Gay.

Encontro em Viseu


School Boys, de Michael Reichmann

Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu, descobri que não estamos assim tão longe do Porto, e que apesar das afinidades, encontramos uma outra realidade. No encontro, bastante informal, colocaram-se questões, discutiram-se ideias e propostas, mas sobretudo tentou-se criar uma espécie de círculo de solidariedades associativas ou institucionais. Uma professora do primeiro ciclo relatou-me o caso de uma aluna de dez anos que afirmou publicamente a sua paixão por uma colega e que foi por isso estigmatizada pela escola. A diferença foi que a questão surgiu na sala de aula, e esta professora aproveitou para falar no caso e desmontá-lo com a turma, embora suspeitasse que a mesma situação com outro colega poderia não ter o mesmo desenlace. Conversamos sobre a necessidade urgente de sensibilizar a classe docente, e concluímos que isso só poderia ser feito com uma formação institucioanalmente reconhecida. Na minha opinião essa vontade já existe por parte de muitos professores, que apenas se sentem inseguros para abordar temas que desconhecem e para os quais precisam de instrumentos. Na verdade o tema já está na escola. Só falta frontalidade para deixar de fazer de conta que não se passa nada.

Aterragens forçadas

Ontem Fafe, hoje Viseu. Sinto-me um itinerante do 'Portugal profundo', em processo automático de observação sociológica pelo mundo da ruralidade e da indústria em decadência. A maior parte das mulheres que conheci em Fafe não conseguem sequer sentir ódio pelos seus patrões, que as exploram despudoradamente e as maltratam, apenas medo. O mesmo se aplica a uma boa parte dos homens com quem partilham a casa e a cama. Não sei se aqui, no mundo protegido e high tech dos info-incluídos, as pessoas se apercebem sequer que aquela realidade existe. Amanhã, se sobreviver, relato a passagem por Viseu, onde participo numa tertúlia sobre homossexualidade na (pasme-se!) maior discoteca do país, a ser inagurada (adivinhem quando?) hoje. Wish me luck!

Recuerdos retro-kitch

Spike e as lésbicas


Ontem, embora com alguma renitência pessoal, por saber que me estou a baldar a outros compromissos mas também pouco entusiasmado por causa das críticas, fui ver o novo filme do Spike Lee, um dos meus realizadores americanos preferidos. Tinha lido que "Ela odeia-me" fazia parte de um conjunto de obras estreadas mesmo antes das últimas eleições presidenciais e que, como tal, trazia consigo uma grande militância anti-Bush, que se percebe desde o genérico inicial, mas que se transforma ao longo do filme numa espécie de vontade de abanar consciências. E tanto assim é que acaba por se misturar no mesmo caldo uma miscelânia de tópicos, o que na minha opinião deita o filme a perder. Ainda assim vale a pena, sobretudo pela primeira hora, ao melhor estilo de Lee, febril e ambígua, a abrir portas a todos os cenários narrativos possíveis. Infelizmente, nunca apreciei desenlaces de tribunal. Soa-me sempre a recurso dramatúrgico simplista, como se um deus ex-maquina decidisse pôr cobro à confusão que reina entre os seus personagens, o que só lhes retira agência e os reposiciona sob um novo equilíbrio para apaziguar o olhar social. O paradoxo é que Lee explora de forma provocadora o que tem vindo a mostrar sempre na sua obra, e que é sempre confundido com o seu contrário: o questionamento das identidades culturais, sexuais, étnicas ou nacionais, acrescentando ainda, neste caso, o da orientação sexual (de uma forma arrojada e também militante). E que melhor lugar para descobrir os interstícios e defender a mestiçagem do que montado a galope nos estereótipos?

PS: curiosamente, esta cena com a curvilínea Monica Bellucci não aparece na versão a que assisti. Terão os europeus receio de ver assim a imagem da herdeira da linhagem de divas italianas?.

"Centenas deixam escola cedo de mais"

Recordo-me como se fosse hoje. Tinha 13/14 anos quando me deparei de muito perto com a realidade do abandono escolar. Um colega nosso de turma é obrigado a abandonar a escola porque o pai morre, e há uma família para sustentar. Soubemos disso no recreio e ficámos muito tristes. Lembro-me de o vermos a sair da escola, de o acompanharmos ao longo das grades que nos separavam da rua, de nos despedirmos e de o vermos a desaparecer na esquina seguinte. Nunca mais o vi. Não era um aluno exemplar mas lá ia conseguindo passar de ano. Era muito brincalhão e por isso gostavamos muito dele.
Não sei porquê mas penso nele com alguma frequência. Para onde foi trabalhar? Voltou a estudar? Será que já fez processo lá no centro onde o Major Tom trabalha? Será que resistiu à liberdade ilusória do álcool e das drogas? Será que é feliz?

O castelo de Miyazaki


Admito que me aconteceu: acordei a meio da noite, naquele limbo a que os italianos chamam 'dormiveglia', entre cá e lá, e parecia não ter saído ainda daquele cenário para onde o japonês maravilha Hayao Miyaisaki me transportou assim que entrei naquela sala do cinema Passos Manuel. Quando saí, tinha-me assaltado essa incerteza: estaria ainda na mesma dimensão? Seria aquela ainda a mesma cidade por onde eu tinha passado duas horas antes? Inseguro, lá fui percorrendo as ruas até chegar a casa, esperando em cada esquina cruzar-me com mais um ser fantástico ou com uma menina de olhos gigantes, à procura do seu destino. Esta realidade já não me convence. Eu também quero viajar dentro da magia do castelo andante.

Direito ao trabalho

Hoje a reunião matinal foi inteiramente dedicada a questões laborais. Onde trabalho, com a óbvia excepção da chefia, todos estamos a recibos verdes. Afinal, que nos interessa a nós que se cumpram metas anuais, pelas quais nos desunhamos, puxando pelos adultos, escrevendo relatórios, fazendo formação, ouvindo e aturando, aconselhando, viajando, reformulando textos, inventando trinta por uma linha, tudo isto quando nunca ninguém mostra o mínimo sinal de preocupação connosco? Realmente é um sinal dos tempos. Não estou a ver a geração dos meus pais a viver esta situação. A minha colega diz que se sente perseguida, o que é, convenhamos, manifestamente diferente de se sentir desprezado ou humilhado, como eu tantas vezes me sinto. Implica uma coerção e uma vexação, processos a que talvez nos tenhamos vergado numa altura em que realmente o que nos interessava era pôr mãos à obra, e aos quais nos acomodamos, sempre observados de perto por quem poderia retirar os maiores dividendos e os louros pela nossa própria estafa. Assim não dá mais! Para quando um sindicato nacional dos trabalhadores independentes?

Agora a vida, outra vez

Após longos meses de espera e ansiedade, quinta-feira foi o último dia de trabalho da minha mãe. Sexta-feira, oficialmente, já era reformada. Novamente a sensação de ciclo concluído e de entrada numa nova etapa. Seguramente uma sensação bem mais forte para ela, que a está a viver. Não consigo evitar pensar o que faria no lugar dela, as muitas liberdades a que teria acesso, mas também o receio de deixar de sentir que tenho um papel, um lugar na orgânica social. Pelo que tenho acompanhado, não me parece que ela tenha preparado o momento. Presumo que terá pensado que as coisas se vão desenrolar por si. Tenho dificuldade em encaixar esta postura, talvez por ser um maníaco do controle e da antecipação. Não gosto que os acontecimentos me ultrapassem, sou como que um jogador que gosta de ter os trunfos na mão, prevendo cartadas por antecipação. Mas esse sou eu e não quero projectar isso em ninguém, sobretudo em quem me é próximo. Apenas espero que este dia, que é o primeiro do resto da tua vida, seja cheio do coisas boas.

Vícios a(u)ditivos



Silêncio


Com um convite na mão, lá fomos à abertura do Festival do Cinema Francês, versão Invicta, para assistir em primeira mão ao último filme do Alain Courneau ("Todas as manhãs do mundo" pode ser uma referência). "Les mots bleus", uma pequena peça com poucos personagens e ainda menos diálogos, centra-se na relação de uma filha que nunca falou, apesar de não ter sido identificada nenhuma deficiência, e a sua mãe, que nunca aprendeu a ler. Pelo meio um homem emocionalmente incapaz e melancólico, tenta quebrar o circuito fechado da comunicação entre ambas e o que era previsível acontece: um dilúvio de emoções. Recordei-me com nostalgia de um outro tempo em que os medos eram maiores, mas em que me bastavam poucas palavras, e em que esse racionamento verbal podia facilmente ser compensado com um outro enorme e expressivo silêncio, onde os gestos vibravam e todos os olhares ecoavam com mais força. De onde nos chega esta necessidade de falar sempre mais do que é preciso?

Ser cientista é...


Sondado acerca do meu interesse em colaborar num projecto de investigação sobre delinquência juvenil (whatever that is), não fui capaz de esconder a minha insegurança em relação às minhas capacidades como pesquisador. Trata-se de uma incapacidade recidiva de auto-definição como profissional. De repente passam quatro anos sobre a licenciatura, da qual saí com menos auto-confiança do que quando consegui a carta de condução, e eu vejo o quanto me afastei dessa parangona - 'Profissão: Sociólogo'. Já não tenho lata de atribuir todas as culpas a um curso deficitário em várias matérias. Cada vez mais me parece que o investigador já o é antes da credencial (embora considere fundamental a formação e uma certificação), ou seja, tem que possuir em si um espírito de inquirição indómito que lhe permita pasmar de cada vez que olha para a realidade, mesmo que aparente ser a mesma realidade do dia anterior (que não é). Eu sinto tudo isto. Simplesmente, a minha insegurança parece brotar bem do meio entre esta perplexidade curiosa e a capacidade para a transformar em ciência.

Histórias que não interessam ao menino Jesus


Já não me recordo que idade teria, mas terá sido seguramente já na casa dos vinte, que consegui reunir toda a coragem do mundo e fui comprar a minha primeira revista porno gay, ali em plena banca do quiosque da rua do Bonjardim. A dona era uma senhora já de idade, que permaneceu completamente indiferente ao meu batimento cardíaco e à minha mais que provável vermelhidão na cara. O pior foi depois. Nessa altura andava de mota e foi um caso bicudo para chegar a casa inteiro, tal era a ansiedade com que transportava aquela carga preciosa. Não vos vou contar o que aconteceu quando me vi na segurança do meu quarto, seria um insulto à vossa capacidade de imaginação. Permitam-me só acrescentar que estava em plena época de exames, e que portanto tinha um bom pretexto para não sair. O dado interessante no meio disto, e que relembrei em conversa com um amigo virtual, é que a visão daqueles homens fortes e belos em pleno desfrute mútuo destruía de uma só vez uma outra imagem que eu herdara da homossexualidade, a da vergonha e fraqueza, do oculto e da feminilidade, tudo o que eu engolira do regime de sexualidade em que cresci. E acredito que me tenha ajudado a levantar a cabeça. Posto isto, e porque acredito no poder subversivo do sexo: viva a libertação do porno!

Há dias assim


Não me apetece pensar no que aconteceu ontem ao país. A ideia de emigrar ainda está demasiado presente e preciso que ela se esvaneça para por os pés na terra. Já sei como é fácil desinvestir de tudo quando as coisas parecem ir contra e quero combater essa fatalidade. Neste Domingo, depois de votar, aproveitei também para dar um pulo a Serralves, que já não visitava há uns tempitos (fiquei a saber que os estudantes não pagam durante a semana, o que sempre foi uma boa notícia num dia tingido de negrume). Já há muito tempo que me intrigam dois artistas portugueses: a Helena Almeida (na imagem) e o Jorge Molder. Não sou grande conhecedor da arte plástica em geral, apenas apreciador, e por isso tenho dificuldade em perceber o que me fascina naquelas imagens. Sei que tem a ver com as elaborações em torno da identidade dos próprios autores (regra geral são auto-retratos). Às vezes acho que talvez seja essa em última instância a nossa única possibilidade, onde nos podemos aproximar mais do conhecimento ou da verdade: pensar sobre nós próprios. Depois repenso no assunto e apercebo-me que é falso, que estão sempre a acontecer coisas que o desmentem. Coisas como a ansiedade de desejar tanto ou a profunda melancolia de um dia assim.

Hedwig à presidência!


Relembrando o poderoso Wedwig and the Angry Inch, dei por mim a pensar: para quando um candidato assim para a Câmara Municipal? Hedwig é a derradeira súmula das consequências das contradições do ser humano. A história é simples: um rapazito de nome Hansel, nascido em Berlim Oriental, submete-se a uma intervenção cirúrgica para mudar de sexo e casar com um americano por quem se apaixona, ultrapassando desta forma o Muro da Liberdade. Mais tarde descobre que a operação foi mal sucedida (deixando-a com o tal angry inch) e que o namorado a traiu, o que a deixa num estado de desespero. Decide então formar uma banda rock e tentar encontrar a origem do amor. Inclassificável e decadente, até na margem parece ser incapaz de erguer o seu frágil estatuto de diva irreverente. Ou seja, um currículo bem mais interessante do que a maioria dos nossos candidatos para o próximo Domingo. E também um dos personagens mais queridos e eloquentes que surgiram no cinema (para mim que só conheceu a versão grande ecrã, embora também espalhe o seu charme e perfume barato em teatros de segunda) nos últimos anos. O mérito é todo de John Cameron Mitchel, o seu criador, intérprete e, agora, alter ego. No site acabei por descobrir também qual o seu nome glam rock: LUNAR LOVE. Agora é só aprender uns acordes na guitarra e comprar umas perucas...

Post Retrokichpop.Party

Estou como hei-de ir.

Imaginazine


Andava a fazer uma limpeza à minha listagem de links favoritos e fui dar a um site que já não me lembrava que existia. Projectos desta qualidade, ainda para mais em português e feito em Portugal, devem ser divulgados. Dêem uma espreitadela nos fólios, vejam os trabalhos que por lá andam e pode ser que tenham uma surpresa... ;)

A lógica do gengibre

De há uns tempos para cá tenho assistido a aulas de Ioga (lê-se Iôga, segundo os entendidos). O que quer dizer que, no jogo permanente entre curiosidade e repulsa, a primeira tem ganho, numa espécide de combate contra a sensação de controle excessivo que uma certa racionalidade tem exercido sobre mim. Ou seja, parece-me benéfico contrariar-me e tentar fazer exactamente o oposto do que esperam de mim. Encontrei esse antípoda no Ioga. Aqui aprendo que somos feitos de energias que circulam, sendo movidos por forças nem sempre convergentes. A ideia é procurar equilíbrios através da meditação, o que supostamente se consegue através dos nasana, exercícios que envolvem um apuro da respiração e um depuramento da condição física, devendo também passar pela alteração de hábitos, entre outros, os alimentares. Na última sessão, quando me queixava da minha renite, que me impedia de fazer aquela respiração malabarista, o instrutor, após uma conversa cheia de metáforas cujo significado, como sempre, me escapou, convidou-se a sair com ele e lá fomos comprar o ingrediente que faltava na minha dieta: gengibre. Ao olhar para aquele tubérculo desengraçado, tive que reunir todas as minhas forças para me manter sério. E consegui. E tenho utilizado, professor. Só não me obrigue, por favor, a juntar no final as mãos em forma de oração para agradecer a essa entidade cujo nome a minha falta de fé impede de fixar.

Nus masculinos


Para todos(as) aqueles(as) que gostam de ver um belo corpo masculino, a Taschen reeditou o seu livro "The Male Nude". São 576 páginas, que fazem a história da fotografia da nudez masculina desde o século XIX até aos nossos dias. E por apenas €8,99 (na FNAC), numa edição comemorativa dos 25 anos da editora. Eu já comprei!

Bailando na capital


Sempre achei que o Sol de Lisboa me drenava as energias mais depressa do que em qualquer outra cidade. Em frente a um palco atapetado com cravos, dentro de um São Luiz à pinha, claustrofóbico mas eficaz, enlevados durante cerca de duas horas pelos movimentos e vozes de duas dezenas de corpos - os magníficos de Wuperthal - senti-me impelido de nova para a vertigem das grandes emoções, daquelas que nos fazem pensar em grandes mudanças, naquela necessidade de desnascer e encetar outra estrada. Não decifro o seu trabalho com palavras, mas agora vejo Pina Bausch como uma espécie de antena que capta e retransmite sinais vitais da existência humana (até o próprio batimento cardíaco), nunca deixando de expor desejo e dor como realidades complementares do ser humano. Pensava nisso enquanto passeava pela noite do Bairro Alto e assistia a uma outra coreografia de corpos nas ruas e dentro dos bares. Terminámos a noite no Frágil, cujo nome evoca com ironia a condição em que, paulatina e inexoravelmente, repousava. A rebelião do físico fez-se sentir no dia seguinte, um Domingo langoroso entre amigas. Apeteceu-me acreditar que a vida era tão simples e infalível como o sono da pequena Francisca.





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