Palavra de Lygia


Numa manhã assim chuvosa, recolhi alento nas palavras quase infantis de uma octogenária brasileira de visita ao nosso país para receber um prémio literário, numa entrevista que se encontra na última edição do suplemento Mil Folhas do Público: Lygia Fagundes Telles. Para além das considerações pouco sérias sobre a sua condição de escritora, vai avançando com uma ideia central, que é o que fazem as pessoas mais velhas, como se vivêssemos metade da vida a carregar-nos com tralha, e a outra metade a desfazermo-nos dela, depurando o nosso pensamento e comportamento. Lygia viveu oito décadas a tentar perceber o ser humano, que é um ser "complicado, tão enleado nos fios, impossível de ser aberto de ser decifrado. É um mistério intransponível." Fala também da dificuldade desse projecto que é o Brasil, da miséria e da violência, e do reverso que nos faz continuar, o sempiterno sonho. Grandes questões, mas sem grandiloquência. Quando lhe perguntaram porque continuava a fumar desalmadamente naquela idade, respondeu: "Eu não presto".

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